um palco ansioso pela espera, diante de um público faminto de palavras |
Até
outro dia, Eliane Brum era, para mim, uma jornalista e escritora
renomada, vencedora de vários prêmios e respeitada no universo
literário por suas publicações. Esta e outras informações a seu
respeito me foram transmitidas por meu filho, que fez questão de
demonstrar o quanto estava encantado pela leitura de um dos seus
livros, intitulado Uma Duas, o qual retrata a relação
bastante conturbada e enigmática entre filha e mãe. Hoje, após
escutar os relatos e histórias da escritora em Palavras Plugadas,
evento que acontece há algum tempo no Teatro Castro Alves, em
Salvador-Ba, no qual a cada ano uma personalidade é convidada para
um bate-papo, afirmo: conheci uma mulher extremamente sensível, doce
e super preocupada em cumprir seu papel nessa sociedade tão dura e
muitas vezes até cruel, utilizando a palavra falada e escrita e
fazendo jus aos muitos prêmios recebidos pelo reconhecimento da sua
obra.
Todos
hão de perguntar: “mas o que isto tem a ver com a Gastronomia,
gente?” Por incrível que pareça, muito a ver... Saí do Teatro
com a garganta seca de tanta sede e o estômago doendo de tanta fome.
Sede de conhecer mais sobre essa mulher, que havia me passado tanta
doçura e ao mesmo tempo tanta fortaleza e coragem. Fome de degustar
suas histórias, seus relatos, seus livros. Durante o bate-papo
muitas perguntas foram feitas pelos participantes, todas respondidas
com histórias vivenciadas pela autora, com as quais ficaríamos
horas nos deliciando. Eliane Brum me fez perceber que tudo que
ingerimos ou absorvemos, sejam palpáveis ou não, é o que define
nossas reações e para tanto utilizamos todos os nossos sentidos
gastronômicos: a visão, o olfato, a audição, o tato e o paladar.
E já que o nosso corpo reage conforme olhamos, cheiramos, escutamos,
tocamos ou degustamos um prato, nosso estômago poderá agradecer ou
não, tudo irá depender de como foi preparado, tocado, apresentado.
A apresentação do prato é o início do seu namoro com o nosso
corpo, é quando olhamos, salivamos, buscamos o paladar. Se o prato
estiver bonito, partimos para ele com tudo... e ainda que muitas
vezes o sabor não corresponda à beleza, já nos deliciamos só em
olhar, não é verdade? E a beleza do prato varia de acordo com a
sensibilidade e criatividade do cozinheiro. Do mesmo modo acontece
com as palavras: quem conta, conta o que enxerga, se for real então,
sente na pele. E quem as escuta e resolve escrevê-las, faz conforme
o que sente. E quem as lê, as absorve conforme a própria
percepção. Elas vão sendo construídas pelo olhar, pelo aroma do
ambiente, pela forma como são escutadas e tocam à sensibilidade,
seja num abraço, num aperto de mão, até no que não se pode
pegar, e também pela força do estômago para engolir, até mesmo o
que é difícil de ser digerido, como muitos temas de Eliane,
revelados em relatos fortes de pessoas quase que em busca de socorro,
de mundos distantes, cujo sentido só pode ser captado por pessoas
capazes de enxergar além do mundo visível. E quanto à
apresentação: deve ser convidativa, prender a atenção,
satisfazer os anseios de quem está lendo e de quem se fez ser lido,
ou seja, aqueles que emprestaram suas vidas, contaram suas histórias,
gritaram seus medos, no caso, por meio das palavras de Eliane Brum.
Finalmente,
se associarmos as palavras escritas com a Gastronomia, podemos
concluir: quem come um prato gostoso, normalmente pedirá para
repeti-lo e quem lê um bom livro, certamente sentirá vontade de ler
outro do mesmo autor.
Gastronomia
também é cultura?! Ou cultura também é Gastronomia?!
Colaboração: Rosângela, minha cunhada e comadre, a quem agradeço pela revisão deste texto. Obrigada pelo carinho!!!.
Colaboração: Rosângela, minha cunhada e comadre, a quem agradeço pela revisão deste texto. Obrigada pelo carinho!!!.
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